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domingo, 30 de junho de 2013

Para minha filha GISELLE....

Há quarenta e oito anos, quando eu rodeada de sonhos e esperanças você chegou....Meu Deus, nunca mais esqueci a emoção que senti ao  segura-la em meus braços,  pela primeira vez..... desejara sempre ser mãe e depois de uma gravidez com muitos problemas voce veio... .linda, gordinha e com os cabelinhos encaracolados...Como eu precisava trabalhar fora de casa, optei em deixá-la com a sua avó, em principio durante o dia  e depois, por imaturidade minha, durante toda a semana, ficando com voce nos finais de semana.... naquela época, chegava do trabalho, cansada e  ao  olhar para as suas roupinhas chorava e me perguntava se estava certo  ficar longe de você!! E, assim se passaram cinco anos...Foi quando chegou sua irmã e percebi que se não fosse forte, não conseguiria ter os meus filhos perto, pois seus avós, faziam de tudo para que eu deixasse vocês com eles....então decidi que o lugar dos meus filhos era perto de mim, mesmo que eu não pudesse ficar o dia todo com eles e ainda que tivesse de deixá-los com uma empregada......
Acredito que muitas mulheres da minha geração sofreram  o mesmo problema....Hoje em dia deixar os filhos com os avós ou mesmo com empregadas e babás se tornou uma coisa normal!!!!!
Foi quando o seu pai foi transferido para Curitiba,PR que eu parei de trabalhar e aí começamos  um período maravilhoso, eu, você, sua irmã e seu irmão.... sim porque aí já eram três......
Você foi crescendo e como tinha uma diferença de quase seis anos para os seus irmãos, sempre me ajudava.... fazíamos a arrumação da casa, preparávamos os cardápios, íamos a feira de legumes juntas, nas festas de aniversário fazíamos brigadeiros, cajuzinhos, docinhos de coco, etc.....íamos à Igreja aos domingos agradecer a Deus as Graças de termos uma família....
Nos seus quinze anos, já morando em Macaé, RJ fizemos o culto na Igreja que frequentaramos no Rio de Janeiro e tivemos a coragem de trazer o seu bolo, que não foi pequeno, na mala do carro, lembra da alegria que sentimos ao abrir a mala e ver que o bolo continuava lindo?!!!
Depois voltando para o Rio de Janeiro, pois o seu pai não parava de ser transferido  voce conheceu o rapaz que se tornaria seu marido......
Planejamos juntas com seus irmãos o seu casamento, voce parecia uma princesa com o vestido que voce escolheu, estava linda.....
Depois você me deu a grande alegria de conhecer o sentimento maravilhoso de ser avó quando da chegada das minhas netinhas queridas Rafaella e Roberta.....
Suas meninas hoje, já formadas, trabalhando e seguindo com dignidade suas vidas são as nossas alegrias e a prova que voce soube cria-las transmitindo-lhes carater e personalidade....
Filha querida  já não somos só mãe e filha,  somos sim, grandes amigas e companheiras partilhando as alegrias, dificuldades e até mesmo tristezas que a vida as vezes tras para nós.....
Desejo a você  neste seu dia de aniversário que Deus continue olhando para e por voce continuando a lhe dar saude, paz e grandes alegrias....
OBRIGADO POR SER MINHA FILHA......




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A EMBOCADURA DO RIO

Texto escrito por LYA LUFT na revista VEJA em homenagem a ROBERTO CIVITA......

Sempre me fascinou  o tempo, rio que incessantemente nos carrega, nós distraídos acumulando bens supérfluos, sedentos de prazeres,carregando culpas inúteis, tramando laços bons ou destrutivos, buscando muito mais do que a nossa dignidade. Quem não quer um cargo melhor, maior salário, mais importância? Quem não há de preferir harmonia, simplicidade, crescimento pessoal, amores bons?
O tempo na minha infância era feminino, em alemão "Die Zeit". Então sem  ninguém ter me dito isso, para mim era uma velha bruxa instalada em todos os relógios, daqueles que davam os quartos de hora, meia hora e hora inteira, cujo tique-taque enchia a casa nas madrugadas misteriosas. A velha tricotava o tempo, mantas intermináveis, suas agulhas de metal tiquetaqueando. Minutos, horas, dias. Mais tarde entendi que o tempo se estendia em anos, décadas, milênios, e comecei a sentir um pouco mais o seu poder. E, torcia, no meu coração de criança: não pare, não pare, não pare o mundo. Um dia percebi que também eu podia parar, e desde então o respeitei muito mais, o Tempo, velho bruxo com seu tear desmedido, tecelão, ou rio com suas correntezas e redemoinhos, e enseadas mansas - não importa:ele tudo carrega, transforma, e faz com que como disse Clarice Lispector, "de repente tinham-se passado vinte anos", ou quarenta: espantoso poder dizer "isso foi há quarenta anos e parecer tão natural.
Por outro lado, esse mesmo gnomo tece laços entre as pessoas: o tempo dos casais que acumulam rancores e mágoas e aprendem a se odiar; o tempo dos casais que elaboram um amor terno e respeitoso - aqueles que de dois extremos de uma sala se entendem só pelo olhar; o tempo que transforma filhos pequenos em homens e mulheres com seu destino, mas mesmo assim podem se manter ligados a nós pelos fios do afeto e dos cuidados; ou se afastam e nem nos lembram quando esses fios são cruelmente cortados e a gente pouco pôde fazer.
O tempo que tem uma adversária poderosa: a memória, em que tudo está enquanto ela estiver acesa em nós. Os belos momentos, os prantos, os abraços, as paisagens, as frustações, as grandes perdas, e aqueles que perdemos: continuam em nós com o rosto e a idade que tinham ao partir. E essa dama singular, a memória, nos ajuda em parte a suportar as despedidas: pois eu ainda sou a menina assombrada pelas curiosidades e inquietações de décadas atrás, minha mãe ainda se enfeita para uma festa diante do seu toucador com o espelho em forma de meia-lua brotando do chão, enquanto eu maravilhada, encolhida na cama de casal, observava. "Mãe, você vai ser a mais bonita da festa. Mãe, você é a mãe mais bonita da escola.Mãe, quando eu crescer quero ser como você" E mesmo quando o tempo e a doença consumiram sua energia, alegria e beleza, e lhe roubaram a memória, me dou conta de que ela, como todas as pessoas, continua em todos os espelhos do mundo. Basta saber olhar. Basta saber lembrar. Alguém me disse recentemente ter visto aquele toucador, como aquele espelho, em alguma casa: que sentimento pugente me invadiu.
O que ficará de nós nos espelhos atemporais, quando desaguarem as apressadas torrentes do rio do tempo, e terminar o trabalho desse gnomo de agulhas delirantes tecendo nossas vidas? Nunca saberemos. Seremos lançados como garrafas com mensagens: nossas vidas, nossos dias, e obras, e dores, e realizações, e decepções, e tudo isso que estamos, a cada minuto, hora, dia, talvez décadas, construindo sem nos darmos conta desse nosso incessante trabalho. Seremos lançados nisso cujo verdadeiro nome é Enigma. Eu o chamo Oceano. Quem sabe, Esplendor.